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Evento On Track coloca o Flat Track na história no motociclismo nacional

Texto: Gui Foster (@duasrodaspelomundo)| Fotos: Gui Foster, André Eduardo (@dudres), Mo Dantas (@modantas), Gui Veloso (@outraperspectiva) e Daniel Zielonka (@danizielonka)

Como muitos sabem, o Flat Track foi trazido para o Brasil em 2016 pelos idealizadores do Lucky Friends Rodeo (@luckyfriendsrodeo), Flavio Luz e Marcelo Creck. Desde então, o esporte vem crescendo a cada ano – e 2020 tinha tudo para ser incrível para a modalidade. Aí veio a pandemia que afetou o mundo inteiro. Para não deixar o ano passar em branco, os organizadores do BMS (@bms_motorcycle) e do Rodeo juntaram forças para inovar e criar o On Track, evento ocorrido em Sorocaba, em novembro de 2020, que levou o Flat Track (@flattrackbr) para dentro da casa dos telespectadores, por meio da transmissão ao vivo das corridas que teriam sido a etapa final do campeonato brasileiro de 2020.

Graças à dedicação e ao trabalho em conjunto, o evento tomou proporções gigantescas com participações importantíssimas dos organizadores do Flat Out Friday (um dos eventos mais importantes de Flat Track nos EUA) e também de pilotos norte-americanos competindo na etapa. Sem dúvida alguma, o On Track escreveu de vez o nome do Flat Track na história do motociclismo nacional. Havia grandes marcas apoiando a causa, como as renomadas Harley Davidson do Brasil e Royal Enfield. Para não falar das empresas já tradicionalmente ligadas à cena, como Jack Daniel’s, Urban Helmets, Gerdore, Heineken, Wings Custom, Mitas e MXF, entre muitas outras.

Bem na semana do evento, Sorocaba foi atingida por alguns dias de chuvas intensas, deixando apreensivos todos os envolvidos. Mas os deuses do Flat Track colaboraram e, com muito trabalho da equipe de manutenção, os pilotos conseguiram entrar na pista para tomada de tempo no sábado, como planejado. Domingo era o grande dia: colocar todo o trabalho de meses em prática e oferecer ao público uma experiência inovadora no Brasil! Antes de começar a transmissão ao vivo, aconteceu uma eliminatória da categoria Sportster. A emoção já estava à flor da pele e a última bateria foi a sinalização do que estava por vir! O piloto Johny, da equipe Brutal Garage, fez uma ultrapassagem INCRÍVEL na última curva para garantir a vaga na disputa ao vivo.

Fazendo história

Às 13h30, diretamente de Sorocaba, o On Track começou a fazer história no Brasil com a primeira corrida de Flat Track transmitida ao vivo no País. Um time de peso foi escalado para apresentar todas as atrações, formado por Karina Simões, que foi a repórter de pista, o narrador Thiago Cordeiro, o comentarista Flávio Filho, também conhecido como “Xará”, e Cezinha Mocelin, idealizador do BMS e também um dos responsáveis pela Liga Brasileira de Flat Track.

A primeira categoria a entrar na pista foi a estreante FT 411, apresentada pela Royal Enfield. As Himalayans, preparadas especificamente para virar à esquerda na pista de terra, deram um show. Havia uma interessante mistura de pilotos experientes no Flat Track com novatos na modalidade, mas com muitos anos de bagagem em outras competições – e até alguns estreando no motociclismo competitivo.

Todo esse mix de experiências gerou uma disputa acirrada em todas as baterias e, sem dúvida alguma, os espectadores em casa puderam apreciar muito essa nova categoria, que veio para ficar! Destaque para o duelo, na segunda bateria, entre Bruna Wladyka e Seku Mello. Bruna conseguiu se aproximar muito na última volta e acabou se chocando com Seku em uma tentativa de ultrapassagem. Infelizmente, ela caiu e, consequentemente, não avançou para a repescagem.

Segundo Bruna, a primeira pilota de Flat Track no Brasil, essa emoção só traz ainda mais incentivo:

“Estava pronta. Passei por uma preparação e por uma mudança grande na minha vida. Infelizmente, em uma competição, tudo pode acontecer e, ao tentar ultrapassar uma moto na última volta, tive uma queda. Para mim, essa queda foi um mergulho definitivo no Flat Track. Comecei e não largo mais. Que venham muito treino e preparo pela frente”.

Depois de uma bateria mais emocionante do que a outra, quem faturou o campeonato brasileiro foi Nielsen Bueno, representando a Royal Enfield São Paulo. Apesar de ser um novato na modalidade, é um piloto extremamente experiente e com diversos títulos no motociclismo. Nielsen teve que usar toda sua bagagem na semifinal e na final, quando competiu com o segundo colocado geral, Guga Bittencourt, da Royal Enfield Londrina, figurinha carimbada no Flat Track e que era um dos favoritos para levar o caneco.

Nielsen Bueno – Foto Daniel Zielonka

Em terceiro lugar ficou um veterano na modalidade, Pedro Chernicharo, da Garage 212. Vale mencionar que a categoria ainda contou com Chrys Miranda, um dos primeiros pilotos brasileiros de Flat Track, representando a Royal Enfield Ribeirão Preto, que ficou em quarto lugar geral; Gaspar Matos, da Dobrucki Racing, piloto de 70 anos e único a participar de todas as categorias da modalidade; Gustavo Ceccarelli, da Royal Enfield Campinas, piloto extremamente experiente na motovelocidade; Filipe Bueno, da equipe Auto Super, que finalizou sua moto apenas no dia anterior à corrida; Seku Mello, criador do Moto Rede, representando a Royal Enfield Porto Alegre; Hugo Renault, um dos idealizadores do Portal Motorama, que encarou o desafio de representar a Royal Enfield Brasília; além da presença de Bruna Wladyka, representando a Royal Enfield Curitiba.

Categoria FT 411 na íntegra

Diversão

Após a competição nacional, quem entrou na pista foram as Minimotos, apresentadas pela MXF. Foi uma corrida entre convidados, todos não profissionais, com o objetivo de descontrair o público, já que o maior prêmio ficava não com o vencedor, mas com a melhor fantasia. Os ganhadores foram o ator Felipe Titto e o Skatista Lucas Xaparral. Mas quem o público escolheu como melhor fantasia – e ainda levou pra casa uma minimoto da MXF – foi o “Biscoito Boladão”, interpretado pelo Anão Boladão.

Eu também fui um dos convidados a correr na categoria, mas, infelizmente, não consegui ganhar nem a bateria e nem a melhor fantasia. Mas valeu muito a diversão e a participação no evento – sem contar que 2021 já está aí. Outros participantes foram Guigo Pinheiro, do Canal Motorama, Gisele Favaro, do canal Conexão Duas Rodas, o YouTuber Ninja Flow e o campeão sul-brasileiro de moto habilidade, Gabriel Thomas.

Categoria Mini Motos na íntegra

As antigas desfilaram

Depois da descontração, foi a vez de as Harleys antigas entrarem na pista. No On Track, tivemos um total de 12 motos competindo na categoria. Essas verdadeiras relíquias foram divididas em dois grupos: Original, com motos de câmbio na mão, e Custom, em que o câmbio é trocado com o pé. Para muitos, o importante nessa corrida é cruzar a linha de chegada. Afinal, estamos falando de motos com motores anterior a 1979 e com rabo duro. Na divisão Original, quem faturou o campeonato brasileiro foi Alan Pereira, da equipe Prime Racing, seguido por Guilherme do Prado Mariana, da Motos do Porão, e Rodigo Hadys, da Jurassic Machine.

Também pilotaram na divisão Carlos Maldonado, da Prime Racing, Baydyr Zacharias, da Old Trouble Custom, e Edna do Prado Mariana, da Motos do Porão, a primeira mulher a competir na categoria na história do Flat Track brasileiro.

Comprovando o domínio da Prime Racing na categoria de antigas, Rafael Oregana não estava para brincadeira e levou para casa o campeonato brasileiro das Antigas Custom. Scott Johnson, um dos fundadores do Mama Tried e Flat Out Friday e integrante da caravana estrangeira que veio para o evento, também correu pela equipe Garage Metallica – e chegou em segundo. Celio Dobrucki, da Dobrucki Racing, campeão de 2019, finalizou o pódio chegando em terceiro. Também competiram na categoria Gaspar Matos, da Dobrucki Racing, Mauricio Fazzi, da Scuderia Fazzi Custom, e Maurício Oregana, da Prime Racing.

Categoria Antigas na íntegra

Categoria Sportster

Para finalizar o On Track com chave de outro, as Sportsters entraram na pista. Logo na primeira bateria, algo inesperado aconteceu. Marcelo Silvério, campeão brasileiro de 2019 e detentor da volta mais rápida nas classificatórias, teve um problema elétrico e ficou parado na largada, deixando de lado o sonho do bicampeonato. Na mesma bateria, assim como nas corridas classificatórias, Johny conseguiu o segundo lugar, ultrapassando Vinicius Peterlini, da Eric Cycles, nos últimos instantes para ir à próxima fase. Allan, da Prime Racing, levou a bateria.

Também não faltou emoção na segunda bateria. O piloto Marcelo Simões, do Team Urban, queimou a largada, mas conseguiu se recuperar e vencer corrida. Warren Hein, um dos fundadores do Mama Tried Show nos EUA e que veio ao Brasil competir, também marcou presença pilotando a Sportster gentilmente cedida por Chrys Miranda da Garage Metallica. Warren fez possivelmente a melhor ultrapassagem do campeonato, tanto que foi ovacionado por todos que estavam na pista. No entanto, na curva seguinte, infelizmente, a frente da moto escapou e ele caiu, encerrando sua participação. JR, como Warren também é conhecido, nunca havia pilotado a moto – e vale ressaltar que ela estava preparada para Chrys Miranda, um piloto muito mais leve. Além de Simões que ganhou a bateria, Tata Pelegrino da V2 Racing chegou em segundo e também avançou para próxima etapa enquanto Felipe Freccia da Milwalkee chegou em terceiro e não avançou.

Equipe de Pista – Foto Daniel Zielonka

Na terceira bateria, quem venceu foi Rafael Oregana, da Prime Racing, seguindo por Celio Dobrucki e Gaspar Mattos, ambos da Dobrucki Racing. Guega, da equipe BZ Flat Track, infelizmente sofreu um acidente e não conseguiu completar a prova (felizmente nada aconteceu com ele). Na bateria seguinte, tivemos a estreia de Jeffrey Carver, também conhecido como “The Wizard”, um dos melhores pilotos de Flat Track do mundo, integrante da caravana norte-americana que veio ao Brasil, competindo pela Prime Racing. Avançando para a próxima etapa, também tivemos o experiente piloto Henrique Zampieri, da BZ Flat Track, e, fechando a bateria, Diego Djamdjian, da V2 Racing, e Geovane Ciecielski, da Milwaukee

Na primeira semifinal, houve um domínio da Prime Racing, com Rafael Oregana em primeiro e  Alan Pereira em segundo. Ambos avançaram para a final, deixando para trás Johny e Celio Dobrucki. A segunda semifinal trouxe, provavelmente, a disputa mais emocionante do campeonato, entre Jeffrey Carver, Marcelo Simões, Henrique Zampieri e Tata Pelegrino. A troca de posições foi constante, com forte emoção, e praticamente todos os pilotos lideraram em algum momento. Zampieri e Tata, que lideraram a prova por algumas voltas, acabaram em terceiro e quarto, respectivamente, atrás de Jeffrey Carver e de Marcelo Simões, que avançaram para a final. Tal prova serviu para mostrar a qualidade dos nossos pilotos, que sempre andaram juntos com um dos melhores do mundo na modalidade.

Grand Finale

Chegamos na grande final, o momento para o qual todos os pilotos trabalharam arduamente neste ano tão turbulento! O grid contou com Marcelo Simões, da equipe Team Urban, e um trio de pilotos da Prime Racing, composto por Alan Pereira, Rafael Oregana e Jeffrey Carver. O norte-americano queimou a largada e teve que sair em desvantagem. Alan largou na frente e conseguiu se manter na liderança até o final. Já a batalha atrás foi intensa. Jeffrey chegou a ultrapassar Rafael, mas, no final, ficou em quarto lugar.

A disputa pelo segundo posto só foi resolvida na última curva, quando Marcelo Simões ultrapassou Rafael Oregana. Para Alan, ganhar o campeonato brasileiro foi uma superação, já que, menos de um ano atrás, havia sofrido um grave acidente nas pistas de Flat Track e não tinha certeza se teria vontade de correr novamente. Com três pilotos entre os quatro primeiros, a equipe Prime mostrou que é, sem dúvida, o time a ser batido, levando pra casa o primeiro lugar em todas as categorias apresentadas pela Harley Davidson.

Categoria Sportster na Íntegra

Para Marcelo Simões, foi um grande feito, uma vez que, em competições passadas, o piloto não havia chegado próximo ao sucesso que teve no On Track. Ele explica um pouco como isso aconteceu:

“Transição de uma moto para outra, tem tudo a ver com o meu resultado no On Track. Eu acho que sem essa transição, esse segundo lugar aí seria bem mais difícil”. “No primeiro treino com essa nova moto, eu senti uma diferença absurda na minha pilotagem”. “Eu já venho do freestyle motocross há dezesseis anos profissionalmente, mesmo sendo duas rodas, terra, não tem nada a ver um esporte com outro. Acho que a única coisa que ajudou foi o psicológico de treino, competição”

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OUÇA A ENTREVISTA NA INTEGRA

Para o estreante Luiz Fernando, da equipe CWB Sportster, foi incrível fazer parte dessa história:

“Primeira experiência é inesquecível, né? É impressionante o empenho que que a gente tem pra um evento desses, eu que só acompanhava de fora, não tinha ideia nenhuma de como realmente você precisa se dedicar e se preparar pra esse tipo de evento”. “E dessa vez não foi diferente, só de sentir a poeira levantando o barulho dos motores, assim, pra acompanhar tudo é demais”.

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OUÇA A ENTREVISTA NA INTEGRA

Não restam dúvidas de que o On Track deixou registrado o nome do Flat Track na história do motociclismo brasileiro, elevando a modalidade a um novo patamar. O futuro do esporte é muito promissor no Brasil, com cada vez mais pilotos aderindo e o público se apaixonando por essa corrida tão tradicional. Tive o prazer de conversar com Jeremy Prach, um dos fundadores e organizadores do Flat Out Friday. Ele ficou impressionado com a organização do evento, com a qualidade de nossos pilotos e com a quantidade de motos Hooligans participantes. Acredito que, nos próximos anos, principalmente graças à seriedade dos organizadores da Liga Brasileira de Flat Track, veremos a modalidade em mais cidades no Brasil, com o interesse crescendo exponencialmente.

Chrys Miranda, da Garage Metallica também ouviu a mesma coisa:

“Os americanos ficaram boquiabertos com a qualidade de organização. Inclusive o Jeremy que ficou na pista, falou que não conseguem fazer organizado da maneira que fizemos. ” “O trabalho que foi feito por toda a equipe Luck Friends, toda a equipe do BMS, que a gente pode chamar toda a equipe On Trak, que é a junção de todo mundo, acho que foi o evento mais perfeito que teve e que entrou para os livros”.

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OUÇA A ENTREVISTA NA INTEGRA
Chrys Miranda – Foto Daniel Zielonka

Abaixo seguem todos os pilotos participantes do On Track e seus respectivos Instagram. Se você gostou do evento, apoie a cena e siga o trabalho de todos eles.

Fiquem com uma pequena amostra do que foi o On Track

2 comentários sobre “Evento On Track coloca o Flat Track na história no motociclismo nacional

  • Excelente matéria! Sua presença no evento foi crucial, desde o treino umas semanas antes, o receptivo no hotel, fotos, todas as conversas com certeza contribuíram com maestria para o sucesso do evento! Que venha a temporada 2021, abração.

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